Nossa pré-história não recua tanto assim no tempo. Não vamos começar com dinossauros, a megafauna extinta ou os indígenas do tronco linguístico Macro-Jê que habitavam a região há pelo menos 10.000 anos. Iniciamos em meados do século XX.
Na véspera de Brasília acontecer, seu território não era vazio. A população, pequena, estava espalhada em fazendas goianas típicas, enormes, de gado criado solto. A Fazenda Taboquinha, adquirida em 1954, era uma delas. Originalmente ia desde onde hoje é São Sebastião até as margens do Lago Sul. Os atuais Jardim Botânico e Ermida Dom Bosco ficavam na parte desapropriada para a implantação da nova capital.
Em meados da década de 60, seu proprietário, Pedro Ferreira Alves, decidiu dividir a grande área restante em quinhões para vender e distribuir entre seus 11 filhos e filhas. Uma delas, Idalina, ficou com o quinhão 16, um belo pedaço acidentado, com matas densas, platôs, morros arredondados e o peculiar encontro entre o Córrego da Anta e o Ribeirão Taboca numa baixada em forma de forquilha. Ali ela ergueu junto com seu marido Belmiro a sede da fazenda que batizaram de Forquilha.
No começo da década de 80, Brasília já estava consolidada e começava a se expandir. Parcelamentos urbanos começaram a aparecer por aqueles lados e o casal vendeu parte grande da Fazenda Forquilha/Quinhão 16 para um grupo de compradores, que acabou dividindo a área em chácaras para revender.
Julho de 1983. Azeny Paim Pamplona e mais três colegas de trabalho compraram a de número 1 por Cr$ 600.000,00 (cerca de R$ 10.500,00 em 02/2017). Uma encosta bem inclinada de 4 hectares voltada para sudoeste, com um cerrado ralo praticamente sem árvores e solo exposto, cascalhento e compactado. Ah, sim. E sem água, nem superficial, nem no subsolo. Mas em um vale amplo com uma vista linda para a mata fechada em frente.
Em algum momento de 1984 Azeny leva seu filho Sérgio para conhecer o tal terreno por um trajeto que pareceu bem longo. Do balão da Esaf até lá foi uma volta de 9km, grande parte em estrada de terra. O caminho mais curto estava bloqueado. Hoje pavimentado, esse percurso tem 2,5km.
O rapaz, então com 18 anos, não se impressionou nem se animou muito. Talvez por estar mais ligado no curso de arquitetura em que recém ingressara, ou em meninas... vai saber o que se passa nas mentes jovens. Mas guardou a imagem do vale e a localização aproximada.
Poucos anos depois o jovem amadurecera um pouco, embora mantendo a característica questionadora. Começara a se interessar por comunidades alternativas e a se ligar na natureza. O terreno passara a ser um local de passeio com amigos e refúgio. Iam apreciar o visual, se molhar no Córrego da Anta e explorar a mata.
Começou a sonhar em construir uma casa ali, sempre querendo incluir os amigos. Desenhou vários possíveis projetos. Casou-se pela primeira vez, largou a arquitetura, conheceu a permacultura, mudou-se de Brasília e um ano depois voltou para a cidade já querendo ser bioarquiteto e permacultor.
Finalmente no final de 1997, após a venda de um imóvel da família conseguiu erguer a tão sonhada casa. Construi-a grande, maior do que ditaria o bom senso, para abrigar a família que somava ao todo 5 filhos, no estilo “os teus, os meus, os nossos”.
A ideia já era uma casa baseada na permacultura. Estrutura de eucalipto, adaptação à topografia, escadaria com pneus, biodigestor, sistemas para águas cinzas. E as dificuldades do aprendizado e do pioneirismo, ainda mais num terreno sem água.
Saiu da casa, separou-se, voltou, trouxe amigos para morar juntos. Em meio a festas e fogueiras e projetos os plantios efetivamente começaram, assim como a tão necessária construção de solo e o armazenamento de água da chuva. Estamos em 2001, um PDC do Ipec é parcialmente ministrado no sítio, deixando um círculo de bananeiras e alguns canteiros.
Segundo casamento. Novamente uma casa familiar, e a ocupação do sítio se estende. Canteiros de horta e ervas, compostagem, um monte de árvores plantadas, espiral de ervas, construção do sanitário seco, do templinho e da oca para eventos. Muita matéria orgânica é trazida dos bairros vizinhos. O espaço vai se consolidando como um sítio permacultural.
Acontece o primeiro PDC do Ipoema, assim se inaugura a oca. Reunião da Rede Permear de Permacultores, curso de Princípio Avançados com David Holmgren. São feitos açudes, escavadas valas de infiltração. São abertos platôs para futuras casas. O espaço para o grande tanque do alto do morro é aberto.
Pula para 2011. Casa vazia novamente, junto com o casamento com Mônica, permacultora em busca de vida comunitária. Novas estruturas são feitas, antigas são arrumadas. A oca ganha novo telhado e um puxado com sanitário seco e cozinha. O sítio passa a ter manejos mais constantes, mais plantios e, enfim, colheitas. A casa grande ganha um apartamento independente anexo. Outras pessoas vêm morar. O projeto da comunidade escola começa a tomar corpo com sua chegada. O formato vai aos poucos se aprimorando.
PDCs começam a ser dados anualmente, junto com a Toca da Coruja. Vários outros eventos e cursos passam a acontecer. Mutirões e reuniões semanais, danças circulares. As árvores começam a dar frutos e sombra. Os passarinhos se multiplicam.
Neste movimento, sempre renovado, mas sempre na direção da aplicação prática da permacultura em todas as suas dimensões, nos encontramos hoje. Rumo à aldeia de permacultores, quando for a hora...
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