O Sítio Nós na Teia é uma propriedade de 1ha (10.000m2) localizada em Brasília, em área ainda rural no bairro Jardim Botânico. Desde seu início em 1998, seu idealizador Sérgio Pamplona, busca na Permacultura (cultura de permanência/sustentabilidade) inspiração para o seu design ecológico e práticas  para ser um exemplo de ocupação sustentável. 

Quando Sérgio herdou o local, a região, então rural, estava no início de um processo contínuo de envolvimento por expansão urbana destrutiva e insustentável. A propriedade era uma pastagem íngreme e degradada em um belo vale. Em 1998, ele iniciou um projeto permacultural de uso da terra. Conectado à sua prática profissional em arquitetura e urbanismo, seu objetivo era demonstrar como se pode habitar a terra de uma maneira ecológica que fecha ciclos de ciclo, sendo positivo e regenerador para o meio ambiente. Desde 2011, junto com sua companheira Mônica Carapeços eles se dedicam a transformar a propriedade em uma escola de permacultura. Um local onde se estuda, aplica e são oferecidas atividades educativas ao público em geral, a fim de difundir um estilo de vida ecológico e cooperativo.

A escola têm florescido. No local há uma casa grande que serve de moradia coletiva, uma Oca de 100m2 para eventos, e um embrião de aldeia que já conta com 2 casas ecológicas que utilizam diversas técnicas de construção natural, bioclimatismo, telhados verdes, ecosaneamento entre outras estratégias. O design do local e das construções é no sentido de criar e difundir um modelo para assentamentos humanos sustentáveis, em áreas periurbanas, visando integração harmônica ao ambiente, com especial ênfase ao manejo sustentável da água. Nesta perspectiva, está sendo desenvolvido um sistema integrado de estratégias de captação e armazenamento de água de chuva, que é a única fonte de água no local. Ou seja, mesmo sem o abastecimento da rede pública, ou qualquer tipo de poço, o grupo consegue, apenas com a chuva, ter água suficiente para consumo e plantios.

A experiência prática do coletivo, nas diversas áreas de sustentabilidade, é partilhada por meio de diferentes ações educativas como cursos, oficinas, visitas guiadas, palestras e partilhas abertas de saberes com o público-geral, eventos culturais, entre outros. Em tempos de crise hídrica e ambiental o local apresenta soluções práticas, que estão tendo reconhecimento especial e servindo de inspiração.

Em 2017, conquistamos o primeiro lugar no Prêmio de Iniciativas Urbanas Sustentáveis ​​pelo governo local.

No período de 2012 a 2017 estivemos bastante dedicados ao sonho de formar uma comunidade intencional. Nesse período diversas pessoas residiram no Sítio e colaborarem enormemente com o projeto (veja detalhes em Comunidade-Escola) por períodos mais curtos ou por até alguns anos. Mas a comunidade não se consolidou e decidimos deixar os caminhos mais fluídos para as possibilidades. Talvez com o tempo possamos avançar para moradias e colaboradores mais permanentes.

Por enquanto a proposta é ancorada essencialmente pelo casal de guardiões Sérgio e Mônica.

Sérgio Pamplona

Sérgio Pamplona – formou-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade de Brasília em 1988. Desde então tem se dedicado a buscar uma vida sustentável, alinhando teoria e prática. Participou da I Conferência Brasileira de Permacultura (Salvador, 1995). Fez seu primeiro PDC em 1996 com Marsha Hanzi, pelo Instituto de Permacultura da Bahia. O segundo foi em 1999, com André Soares, pelo PNFC, no ano seguinte à construção da casa mãe do Sítio Nós na Teia. Integrou a primeira equipe do Ipec (2000-2004), tendo acompanhado vários PDCs e cursos de design de ecovilas e bioconstrução no período, foi editor da Revista Permacultura Brasil (2000-2004) e Presidente da Rede Brasileira de Permacultura (2002-2004). Participou da coordenação da primeira edição do curso Educação Gaia Brasília (2012-2013), e atuou como facilitador nas suas três primeiras edições. Fez formação em diferentes metodologias de design social: Comunicação Não-Violenta com Dominic Barter (2013), Dragon Dreaming Avançado com John Croft (2013); Sociocracia com Diane Leaf Christian e Gina Price (2014). Fundou a ArquiNatura, escritório de bioarquitetura e permacultura em 1997, atuando nele até hoje. Desde então, elaborou mais de uma centena de projetos de vários tipos e escalas, sempre com foco permacultural. Avalia que o Sítio Nós na Teia é seu projeto mais importante.

Mônica Carapeços

Permacultora, Educadora e Terapeuta. Graduada em Computação e Mestre em Informática Educativa e EAD. Desde o PDC(2002) com Jorge Timmermann aprofundou seus saberes em Permacultura por meio de cursos em diferentes áreas (agrofloresta, bioconstrução, bambu, economia solidária...) e experiências práticas: co-fundadora da Ecovila Karaguatá (2003-2009); colaboradora na Estação de Permacultura Yvy Porã (2010-2011); coordenação na primeira edição do curso Educação Gaia Brasília(2012-2013). Formação em diferentes metodologias de design social e saúde integral: Comunicação Não-Violenta com Dominic Barter (2013), Dragon Dreaming Avançado com John Croft (2013); Sociocracia com Diane Leaf Christian e Gina Price (2014); Yoga na Tradição de krishnamacharya (2007-2009); Terapeuta Ayurvêdica (2015-2016).

Videos sobre o sítio e suas ações:

 Linha do tempo


Pré-história
1960

A Fazenda Taboquinha

Nossa pré-história não recua tanto assim no tempo. Não vamos começar com dinossauros, a megafauna extinta ou os indígenas do tronco linguístico Macro-Jê que habitavam a região há pelo menos 10.000 anos. Iniciamos em meados do século XX.

Na véspera de Brasília acontecer, seu território não era vazio. A população, pequena, estava espalhada em fazendas goianas típicas, enormes, de gado criado solto. A Fazenda Taboquinha, adquirida em 1954, era uma delas. Originalmente ia desde onde hoje é São Sebastião até as margens do Lago Sul. Os atuais Jardim Botânico e Ermida Dom Bosco ficavam na parte desapropriada para a implantação da nova capital.

Em meados da década de 60, seu proprietário, Pedro Ferreira Alves, decidiu dividir a grande área restante em quinhões para vender e distribuir entre seus 11 filhos e filhas. Uma delas, Idalina, ficou com o quinhão 16, um belo pedaço acidentado, com matas densas, platôs, morros arredondados e o peculiar encontro entre o Córrego da Anta e o Ribeirão Taboca numa baixada em forma de forquilha. Ali ela ergueu junto com seu marido Belmiro a sede da fazenda que batizaram de Forquilha.

1980

A compra do terreno

No começo da década de 80, Brasília já estava consolidada e começava a se expandir. Parcelamentos urbanos começaram a aparecer por aqueles lados e o casal vendeu parte grande da Fazenda Forquilha/Quinhão 16 para um grupo de compradores, que acabou dividindo a área em chácaras para revender.

Julho de 1983. Azeny Paim Pamplona e mais três colegas de trabalho compraram a de número 1 por Cr$ 600.000,00 (cerca de R$ 10.500,00 em 02/2017). Uma encosta bem inclinada de 4 hectares voltada para sudoeste, com um cerrado ralo praticamente sem árvores e solo exposto, cascalhento e compactado. Ah, sim. E sem água, nem superficial, nem no subsolo. Mas em um vale amplo com uma vista linda para a mata fechada em frente.

1984

Um refúgio para sonhar

Em algum momento de 1984 Azeny leva seu filho Sérgio para conhecer o tal terreno por um trajeto que pareceu bem longo. Do balão da Esaf até lá foi uma volta de 9km, grande parte em estrada de terra. O caminho mais curto estava bloqueado. Hoje pavimentado, esse percurso tem 2,5km.

O rapaz, então com 18 anos, não se impressionou nem se animou muito. Talvez por estar mais ligado no curso de arquitetura em que recém ingressara, ou em meninas... vai saber o que se passa nas mentes jovens. Mas guardou a imagem do vale e a localização aproximada.

Poucos anos depois o jovem amadurecera um pouco, embora mantendo a característica questionadora. Começara a se interessar por comunidades alternativas e a se ligar na natureza. O terreno passara a ser um local de passeio com amigos e refúgio. Iam apreciar o visual, se molhar no Córrego da Anta e explorar a mata.

Começou a sonhar em construir uma casa ali, sempre querendo incluir os amigos. Desenhou vários possíveis projetos. Casou-se pela primeira vez, largou a arquitetura, conheceu a permacultura, mudou-se de Brasília e um ano depois voltou para a cidade já querendo ser bioarquiteto e permacultor.

1997

Chegando no local

Finalmente no final de 1997, após a venda de um imóvel da família conseguiu erguer a tão sonhada casa. Construi-a grande, maior do que ditaria o bom senso, para abrigar a família que somava ao todo 5 filhos, no estilo “os teus, os meus, os nossos”.

A ideia já era uma casa baseada na permacultura. Estrutura de eucalipto, adaptação à topografia, escadaria com pneus, biodigestor, sistemas para águas cinzas. E as dificuldades do aprendizado e do pioneirismo, ainda mais num terreno sem água.

Saiu da casa, separou-se, voltou, trouxe amigos para morar juntos. Em meio a festas e fogueiras e projetos os plantios efetivamente começaram, assim como a tão necessária construção de solo e o armazenamento de água da chuva. Estamos em 2001, um PDC do Ipec é parcialmente ministrado no sítio, deixando um círculo de bananeiras e alguns canteiros.

2007

Vim pra ficar

Segundo casamento. Novamente uma casa familiar, e a ocupação do sítio se estende. Canteiros de horta e ervas, compostagem, um monte de árvores plantadas, espiral de ervas, construção do sanitário seco, do templinho e da oca para eventos. Muita matéria orgânica é trazida dos bairros vizinhos. O espaço vai se consolidando como um sítio permacultural.

Acontece o primeiro PDC do Ipoema, assim se inaugura a oca. Reunião da Rede Permear de Permacultores, curso de Princípio Avançados com David Holmgren.  São feitos açudes, escavadas valas de infiltração. São abertos platôs para futuras casas. O espaço para o grande tanque do alto do morro é aberto.

2011

Comunidade - Escola

Pula para 2011. Casa vazia novamente, junto com o casamento com Mônica, permacultora em busca de vida comunitária. Novas estruturas são feitas, antigas são arrumadas. A oca ganha novo telhado e um puxado com sanitário seco e cozinha. O sítio passa a ter manejos mais constantes, mais plantios e, enfim, colheitas. A casa grande ganha um apartamento independente anexo. Outras pessoas vêm morar. O projeto da comunidade escola começa a tomar corpo com sua chegada. O formato vai aos poucos se aprimorando.

PDCs começam a ser dados anualmente, junto com a Toca da Coruja. Vários outros eventos e cursos passam a acontecer. Mutirões e reuniões semanais, danças circulares. As árvores começam a dar frutos e sombra. Os passarinhos se multiplicam.

Neste movimento, sempre renovado, mas sempre na direção da aplicação prática da permacultura em todas as suas dimensões, nos encontramos hoje. Rumo à aldeia de permacultores, quando for a hora...

presente...
TOP