O Sítio Nós na Teia é uma Estação de Permacultura, em Brasília, onde buscamos desenvolver uma cultura de permanência e sustentabilidade. O trabalho iniciou em 1998 com o proprietário Sérgio Pamplona, e com o tempo foi integrando mais pessoas e ideias em um processo que muda continuamente e vai se desenvolvendo ao caminhar. Nosso design social está sendo registrado e publicado aqui no Blog – categoria “Comunidade” (https://sitionosnateia.com.br/category/comunidade/).
Assim, não vou me alongar no tema comunidade, visão, missão…que não é o foco desta postagem. Gostaria apenas de contextualizar nossa visão de criar e difundir um modelo para assentamentos humanos sustentáveis, com densidade semelhante à dos condomínios convencionais de Brasília, em áreas periurbanas, em integração harmônica com o ambiente e especial ênfase no manejo sustentável da água. Dito isso, podemos explicar nosso design permacultural do Sítio destacando o sistema integrado de estratégias de captação e armazenamento de água de chuva, que é a única fonte de água no local. Ou seja, aqui não temos o abastecimento da rede pública, nem qualquer outra fonte (poço raso, artesiano, nascente etc). Assim, ao longo dos anos Sérgio e eu (cheguei em 2011) fomos planejando e aprimorando um sistema com a chuva para termos água suficiente para todas as formas de consumo, incluindo plantios.
No mapa ilustrado do Sítio, apresentamos as estratégias adotadas na área de 10.000m2, que fica em uma encosta voltada para sudoeste, de inclinação entre 20-30%. Lembrando que aqui no Cerrado temos uma estação de chuvas que inicia em geral em outubro (costumava ser setembro mas a seca tem se alongado por vezes até novembro) e vai até maio mais ou menos. De maio/junho até meados de outubro praticamente não chove. O índice pluviométrico fica entre 1200-1500mm concentrado na estação das chuvas, conforme podemos observar nos gráfico com nossos registros de 2015, 2016, 2017.
Desta forma precisamos prever em nosso sistema um período de em torno de 5 meses sem chuvas, sendo que as primeiras chuvas de set/out precisamos descartar porque vêm carregadas de fuligem de queimadas, poeira e várias outras impurezas.
Dado esse panorama, a seguir apresentaremos uma síntese das principais estratégias que envolvem captação para uso dos moradores, bem como outras para benefício do ambiente (poços de infiltrações, canais em curvas de níveis para evitar escorrimento superficial etc). Além disso, investimos em estratégias de tratamento e reuso das águas servidas. Há ainda uma área mais recente de pesquisa ligada a ecologia profunda, conforme começamos a apresentar na postagem Água e Ecologia profunda (https://sitionosnateia.com.br/2019/06/agua-e-ecologia-profunda/).
Temos no total 7 cisternas de ferrocimento (sendo 3 de 10.000ltr; 1 de 15.000ltrs, 2 de 25.000ltrs e uma de 100.000ltrs). Contudo, o total que temos hoje é em torno de 120.000ltrs pois nossa maior cisterna, construída final de 2016, segura em torno de 25.000ltrs, acima disso começa a vazar. Por questões específicas de dificuldade de espaço no morro e necessidade de grandes volumes ousamos fazer uma cisterna muito alta, não recomendável, pelos riscos devido à grande pressão. Fizemos vários reforços estruturais, mas temos esse problema que ainda não focamos em resolver (estamos observando como ela se comporta e percebendo que a cada ano segura um pouco mais de água, como se ainda estivesse curando).
Ou seja temos 120.000ltrs armazenados para passarmos os 5 meses de seca. Desse montante deixamos 20.000 para as plantas e os outros 100.000ltrs para nosso uso, que dá 20.000ltrs por mês para uma média de 10 moradores (esse número é flutuante, sendo que há visitantes, cursos etc), o que dá cerca de 2.000ltrs pessoa/mês ou 66,6 ltrs pessoa/dia como volume máximo a ser consumido. Essa quantidade é confortável desde que o morador tenha hábitos de redução de consumo, principalmente o uso de sanitário seco, banho rápido etc. No artigo “Água: práticas ecológicas no Sítio Nós na Teia” (https://sitionosnateia.com.br/2017/09/agua-praticas-ecologicas-no-sitio-nos-na-teia/) descrevemos com mais detalhes esses hábitos e há várias reportagens feitas aqui no Sítio mostrando esses hábitos ecológicos.
É importante salientar que praticamente toda nossa água cinza (pias, chuveiros, cozinha, lavanderia) é reutilizada, sendo direcionada para irrigação de árvores nas zonas 1 e 2 mais próximas das construções. E anexo a uma das moradias (ver número 5) estamos testando um sistema de biorremediação com plantas para reuso de água cinza da casa para a lavanderia ou para um vaso sanitário convencional com água.
Portanto, REDUÇÃO NO USO e REUTILIZAÇÃO de águas estão nos nossos princípios básicos. No sentido de reutilização obviamente consideramos que os moradores devem utilizar produtos de higiene pessoal e limpeza o mais ecológicos possível.
Voltando a uma perspectiva mais ampla de estratégias, em linguagem permacultural de planejamento nos referimos às zona 3 e 5 (no nosso caso, praticamente toda área mais afastada das casas é 3). Nessas áreas buscamos essencialmente INFILTRAR para hidratar ao máximo o solo e reduzir escorrimento, que causariam erosões e perda de solo. Nesse sentido temos 3 açudes no terreno e conjuntos de canais de infiltração (swales) feitos em curva de nível no terreno. Cabe salientar a importância da infiltração, e por isso nossos açudes não são impermeabilizados, para alimentar as águas subterrâneas que são a reserva de água do planeta que poderá servir às futuras gerações. Infelizmente esse não é o pensamento padrão, Brasília é uma cidade repleta de poços artesianos para que em meio à seca e em uma região com pouca disponibilidade de água as pessoas possam esbanjar em seu consumo. Triste observar o que ocorre no “berço das águas”, região de nascentes das principais bacias hidrográficas do país.
Enfim, voltando para o nosso caso, essas estratégias ecológicas transformaram radicalmente a paisagem. O que era um pasto degradado, com um solo de cascalho, está se tornando amplamente vegetado, cada vez com mais árvores grandes. E estamos criando centímetros de solo a cada ano, começando pelas zonas 1 e 2 e ampliando a medida que conseguimos. Sabemos que ainda há muito a ser feito e que o processo poderia ser ainda mais rápido se tivéssemos mais tempo e recursos para investir. Ainda assim, os resultados são incríveis, nos alegram e confirmam que estamos trabalhando a favor da natureza e do florescimento da vida.
Estamos no cerrado mineiro e gostaria de implantar manejo ecológico na minha propriedade !
Olá Sandra, sim planejar a propriedade é fundamental para conseguir desenvolver com máximo de eficiência, trabalhando a favor da natureza.
Vocês já fizeram curso de design em Permacultura (PDC)? O PDC é a “porta de entrada” para entender como funciona o design permacultural.
Se você desejar também oferecemos serviço de consultoria para esse planejamento. Escreva para nós em sitionosnateia@gmail.com e podemos conversar mais sobre isso.
Abraços,
Mônica