O projeto do Sítio Nós na Teia surgiu em 1998 em um terreno periurbano de 1 hectare (10.000 m2) de terra degradada e sem acesso a qualquer fonte de água. Assim, desde o início foi necessário um intenso trabalho de recuperação de solo e de sistematização de água de chuva para conseguirmos ter reservas para atravessar os 4-5 meses da estação de seca. Ao longo dos anos desenvolvemos um sistema integrado de água que nos possibilitou a auto-suficiência hídrica. Temos várias cisternas que armazenam água de chuva para consumo humano e ainda utilizamos uma pequena quantidade para as plantas. Todas as nossas águas cinza (águas de pias, lavanderia, chuveiros) também são reutilizadas para irrigação de pomares.
Esse cenário, de limitação de água e solo ainda desafiador, nos levou a focar em plantios de árvores/agroflorestas por serem mais efetivas para criar biomassa, trazer água do subsolo e produzir frutos de forma continuada e com pouco manejo (se comparado a uma horta). Assim, temos uma situação incomum. Há açaís e vários frutos produzindo, mas em contraste nossos canteiros de horta são repletos de “mato” e os visitantes quase não observam hortaliças comuns (alface, rúcula etc). É preciso ter um olhar aguçado para perceber que o “mato” é repleto de plantas comestíveis em sua maioria perenes, resistentes, demandam pouca água e são altamente nutritivas (joão gomes, ora-pro-nobis, peixinho, coentrão, chaya, taioba, inhame, carás e vários temperos e medicinais). Pela importância que damos a essas Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANC, temos uma sessão no blog só para elas: https://sitionosnateia.com.br/category/pancs/
Enfim, a estratégia têm rendido frutos, aliás a cada ano mais e mais frutos. Já temos o privilégio de ter um açaí orgânico produzindo no quintal de casa. Nos primeiros anos de produção dos açaís a colheita foi incrivelmente fácil. Eles estão plantados bem próximo da casa, com a altura de 4-5 metros, seus primeiros cachos despontaram na altura do telhado vivo da casa. Portanto, bastava subir no telhado e alcançar com a mão os cachos. Mas eles continuaram crescendo…e agora a maior parte dos cachos já está a entre 2-4 metros acima do telhado e começamos a enfrentar o desafio da colheita.
Como colher? Colocar uma escada desde o chão até os cachos fica muito alto. Desde o telhado fica instável pois o açaizeiro balança. Subir usando a técnica tradicional de amarrar um cinto nos pés também não nos inspira confiança pois não temos essa habilidade.
Utilizando conhecimento de escalada em rocha, pensamos em utilizar a estratégia de subida em corda com nó prusik, aplicada para subida em palmeiras. Provavelmente essa ideia não seja original, mas não conseguimos encontrar referências na Internet. Resolvemos então testar, juntamos o equipamento necessário (cadeirinha, fita de alto, mosquetões, cordeletes) e fomos testar. A técnica foi super aprovada, nos deu segurança para subir no açaizeiro tranquilamente, podendo sentar na cadeirinha para descansar sempre que tiver necessidade. Certamente não temos a agilidade de subida dos povos tradicionais. E é exatamente por essa razão que precisamos garantir uma subida segura, ainda que mais lenta.
Fizemos um vídeo do Wellington, morador do Sítio, escalando o açaizeiro a partir do telhado verde.
Utilizam-se dois cordeletes de escalada (a espessura e comprimento dependerá do caule do açaí). Um deles é amarrado com o nó prusik (https://www.youtube.com/watch?v=cuG5IfYXXu4) o mais alto que alcançar e o outro é amarrado com o mesmo nó na altura dos pés. O de cima serve para clipar a cadeirinha de escalada (usa-se fita de escalada e mosquetão de escalada de rosca) para que possamos sentar com segurança. E o nó debaixo serve para colocar o pé e subir. Assim, conforme ilustra o vídeo, o escalador vai ficar com o pé no nó debaixo, se esticar, afrouxar e subir o nó da cadeirinha ao máximo
possível. Então senta na cadeirinha e sobe o pé. Assim sucessivamente até chegar na altura do cacho e colher. A descida é da mesma forma, vai descendo sucessivamente nó do pé e da cadeirinha.
A estratégia foi um sucesso! Inclusive passamos a utilizar também para segurança em podas em altura no guapuruvu, que é uma árvore que também tem o tronco bem reto e cilíndrico, semelhante a uma palmeira.
Esperamos que esta postagem auxilie outras pessoas que têm esta mesma dificuldade.