No mês de março tivemos o privilégio de receber a Dra. Clara Brandão, médica e nutróloga, que trabalha desde início dos anos 70 com recuperação nutricional e educação. Uma profissional preocupada em romper o círculo vicioso da fome, tratando não apenas a pessoa desnutrida, mas dando condições para que toda a família possa comer bem. Durante seus 39 anos de carreira, ela trabalhou com segurança e soberania alimentar (cadeia produtiva, cardápios, hortas, conservação de alimentos, enriquecimento de preparações). Para ela alimentação inteligente significa de comer bem, barato e gostoso. Assim, seus cardápios visam alcançar um sabor culturalmente interessante, muito nutritivo e com ingredientes acessíveis a toda população.
“Não existe uma comida boa para ricos e outra para pobres. O meu corpo não sabe se eu sou rico ou pobre nem quanto eu ganho. Portanto, ou o alimento é bom para qualquer pessoa ou não serve para ninguém.”
Na contracorrente de alimentação saudável ser sinônimo de alto custo (orgânicos, castanhas, tâmaras, chia, quinoa etc), a Dra. Clara segue uma lógica de preparo de receitas com produtos locais e com muitas plantas ou partes de alimentos altamente nutritivos, mas pouco valorizados. Um de seus preparos mais famosos é a multimistura, no qual inclui 4 alimentos que se destacam pelo valor nutricional e pela facilidade de uso e disponibilidade em todas regiões do país (http://multimistura.org.br/multimistura.htm).
Pode-se enriquecer a alimentação do dia-a-dia com uma farinha composta de:
- 70% de farelo (arroz e ou trigo) tostado,
- 10% de pó de folhas (mandioca, batata-doce, etc.),
- 10% de pó de sementes (gergelim, abóbora, linhaça, girassol).
- 10% de pó de casca de ovo.
“Usar uma colher de sopa por pessoa, por dia, dividida nas três refeições. Serve para todas as idades. É um alimento, não um medicamento. É a multimistura básica. Contém um concentrado de minerais e vitaminas. Funciona como o sal: um pouco todos os dias. Repõe nutrientes fundamentais como o zinco, magnésio, ferro, vitamina A, vitaminas do complexo B e outras. Também reduz a absorção de metais nocivos como o mercúrio, chumbo, alumínio. Milagre? Não. Estamos repondo o que a natureza fez e o que foi retirado pela industrialização. “Bicho não come o que não presta”. Ou seja, um arroz branquinho, mas fraco, não é atacado por insetos e roedores, como é atacado o arroz integral, e se conserva por muito mais tempo. O comerciante vende mais e ganha mais.”
A Dra. Clara trabalha há muitos anos com Hortas Perenes (http://multimistura.org.br/livreto%20hortas.pdf), salientando os benefícios de plantas como Taioba, Ora-pro-nobis, Moringa etc. Atualmente, com o trabalho de Valdely Knupp, essas e muitas outras plantas são denominas de PANC – Plantas Alimentícias Não-Convencionais.
A tarde foi de muitas aprendizagens sobre o alto valor nutricional de alimentos naturais e locais e a importância de evitar comidas industrializadas e ultra-processadas que além de perderem nutrientes causam doenças. E o melhor de tudo foi saborear um banquete com diversas receitas inspiradoras de “matos comestíveis”, desconhecidos para muitas pessoas.
O evento organizado pelo CSA Aldeia do Altiplano, do qual fazemos parte, foi um sucesso, com mais de 50 pessoas, que saíram satisfeitas e empolgadas para realizar seus próprios preparos e experiências gastronômicas.
Obrigado por compartilhar! Grande artigo.
Ola. Obrigado.este é um grande recurso.