A Imersão na Teia chegou a seu sétimo módulo no último final de semana, 3 e 4 de novembro, discutindo questões alarmantes que influenciam diretamente o momento atual e o futuro próximo de nosso planeta. Após uma sessão de cinema, no dia 3, conversamos sobre a catástrofe que se tornou o nosso sistema financeiro, baseado no desejo constante por excedentes (que, geralmente, não existem de fato). Em contraponto, assistimos também a uma aula expositiva sobre a possibilidade de trocas mais saudáveis, partindo de valores éticos e sustentáveis.
Na sexta-feira, assistimos ao filme “O Dinheiro Como Dívida” – uma animação sobre o sistema bancário, que controla grande parte do dinheiro que circula no mundo e mantém o resto estagnado, servindo apenas para a especulação. A obra explica como chegamos à situação onde mais de 99% do dinheiro existente foi criado pelos bancos, a partir de empréstimos, sem qualquer correspondência relevante a um valor real.
Segundo o filme, o dinheiro foi inventado para que houvesse uma forma mais prática de se circular a moeda, do que pesadas moedas de ouro, que ficariam guardados em estoques, sem a necessidade de locomoção. A nova moeda, feita de papel, traria um valor impresso que garantiria a possibilidade do resgate dessa quantia em ouro, no “banco” que a havia emitido. Percebendo que, dessa forma, o ouro de fato jamais saía de seus cofres, o “banqueiro” resolveu começar a emprestá-lo na forma de dinheiro – tanto o seu ouro, quanto o ouro alheio -, cobrando uma margem de juros a cada transação.
O processo foi evoluindo e se complexificando a partir da cobiça de banqueiros, governos e elites. O sistema foi além e a partir de certo momento na história as reservas em ouro deixaram de existir. O novo dinheiro, feito de papel, começou a ser impresso sem qualquer correspondência real ao valor em ouro, estocado no banco e sim com o volume de empréstimos (ou promessas de retorno de dinheiro ao banco).
Empréstimos de dinheiro inventado passaram a ser realizados indiscriminadamente. Os objetos de valor, que de fato importariam, foram perdendo a sua relevância nesse sistema econômico. A não ser no caso de uma dívida não paga, quando as posses de um cliente poderiam ser tomadas pelo banco. Dessa maneira, mais de 99% do dinheiro do planeta foi criado pelos bancos a partir “de nada” a não ser dívidas irreais e especulação. A situação descambou na insustentável concentração de renda que vemos hoje no mundo.
Vivemos um estado de coisas onde uma enorme parte do poder aquisitivo mundial está em mãos que nada produzem, enquanto as que produzem toda a riqueza real – o trabalhador – praticamente não encostam no fruto de seu próprio trabalho. O momento atual é de calamidade, mas, segundo o vídeo, ainda pode piorar até um cenário de colapso, onde toda essa concentração de dinheiro não mais permitirá que o sistema se mantenha.
Ainda ecoando com o baque causado pelo vislumbre do real motor do sistema capitalista moderno, no sábado, resolvemos pensar em alternativas para esse modelo inviável. Mônica Carapeços, entusiasta de sistemas econômicos alternativos, nos contou a história do banco palmas (http://www.institutobancopalmas.org/) – uma iniciativa popular desenvolvida no Conjunto Palmeira, um bairro localizado na periferia de Fortaleza, comunidade que, até então, poderia ser considerada carente. A população de 25 mil pessoas começou a questionar o porquê de serem tão pobres, se tanto trabalhavam e produziam. Chegaram à conclusão de que, na verdade, a única coisa que lhes faltava era o dinheiro em si. Os habitantes resolveram, então, começar a imprimir sua própria moeda, em paridade com o real. A moeda social passou ser aceita no comércio e na troca de serviços. O Banco Palmas foi criado para ministrar o dinheiro, chamado de Palma, sem fins lucrativos. O banco realiza, ainda, empréstimos sem a necessidade de juros ou com uma margem muito pequena, apenas que possibilite a manutenção dos serviços. A análise de quem pode receber tais empréstimos é feita de forma muito simples e eficiente: um fiscal vai até a região onde o cidadão que pediu o empréstimo mora e pergunta a seus vizinhos se eles emprestariam tal quantia a ele. Se a resposta for sim, ele está apto a receber o valor. Um sistema fundamentado na ética, na solidariedade e na confiança.
Mônica é uma das organizadoras da Feira Fértil, uma feira de trocas com moeda social, inspirada no Banco Palmas, realizada em todo último domingo do mês. A iniciativa foi pensada por um grupo de mulheres e idealizada inicialmente apenas para a participação feminina. Um dos objetivos era, justamente, resgatar a relação ancestral do gênero com a economia, curando a ferida que o dinheiro costuma deixar nas pessoas. Hoje, a feira é aberta também para homens.
Finalizamos o encontro com um retorno ao universo onírico do Dragon Dreaming, experimentando um novo Círculo de Sonhos. Dessa vez, o grupo que se dispôs a sonhar com a reformulação da varanda da casa comunitária do Sítio se reuniu para pensar os objetivos e possibilidades de ação para o projeto. Ideias interessantes, como a expansão do banco de cob e o manejo das plantas no entorno foram expostas. Decidimos, então, que o projeto sairá do campo dos sonhos para que, literalmente, coloquemos a “mão na massa” em janeiro, em um evento lúdico, com a presença de crianças. O projeto será melhor delineado e as tarefas específicas determinadas ainda em dezembro, no próximo encontro.