A segunda metade da Imersão na Teia começou fortalecendo ainda mais os laços entre a comunidade e colocando em prática a proposta didática onde a turma pode escolher a agenda a ser seguida e o tema tratado. A diversidade das atividades, que foram do movimento hacker, no espaço Calango Hacker Club, à poda das plantas do sítio, marcou os dias 10 e 11 de novembro.
Na noite de sábado, iniciamos o encontro com uma visita muito rica a um universo considerado muitas vezes inacessível à maioria das pessoas. Nos reunimos no espaço Calango Hacker Club para uma conversa muito esclarecedora sobre o movimento hacker e toda a névoa que o envolve. O debate serviu para desmistificar o senso comum que desenvolvemos sobre o que é ser hacker.
Os membros do Calango, que facilitaram a discussão, nos explicaram que hackear nada mais é do que utilizar algo com um objetivo para o qual ele não foi criado – prática que muitas vezes define o fazer permacultural. No Sítio Nós na Teia, por exemplo, utilizamos pneus como escadas, cadeiras, balanços e para ajudar a fixar o solo em regiões de declive.
Refletimos, ainda, sobre as estratégias de controle utilizadas pelas grandes empresas de tecnologia, como a obsolescência programada, a restrição de alguns equipamentos ao uso de software e hardware apenas da empresa que os produziu e o monopólio de alguns grupos sobre as redes sociais e outras formas de comunicação e busca na internet, utilizadas diariamente por grande parte da população.
Apesar de termos nos programado para realizar podas em parte do terreno, a manhã chuvosa de sábado encaminhou o grupo por outra direção. Decidimos adiantar a prática de Dragon Dreaming, que acabou preenchendo boa parte do dia, devido ao entusiasmo dos imersos. O Dragon Dreaming é uma metodologia de planejamento de projetos que traz o sonho como um dos aspectos mais relevantes do processo. Seu idealizador usou como fonte de inspiração o estilo de vida dos povos aborígenes australianos, que invertem a lógica ocidental, acreditando que o mundo dos sonhos é o ‘’mundo real’’, em detrimento ao tempo que passamos acordados.
Na atividade do sábado, aprendemos sobre as quatro etapas do Dragon: sonhar, planejar, realizar e celebrar. Esses quatro fundamentos devem estar em perfeito equilíbrio para que uma iniciativa seja bem sucedida em todos os seus aspectos. Subvertendo a ideia tradicional de que deve-se focar apenas no trabalho e no planejamento, para o Dragon Dreaming, a celebração, que funciona também como uma avaliação do que já foi feito, além de uma comemoração, é de extrema importância e nela devem ser investidos um quarto da energia e recursos disponíveis.
A metodologia estabelece mecanismos eficientes para cada uma das etapas listadas. Ainda no sábado, depois do almoço, retornamos ao Dragon para definir alguns projetos a serem desenvolvidos pelo grupo. Nos decidimos por dois sonhos principais a serem trabalhados: a reforma do banco de cob, em frente à casa comunitária do sítio, e um sarau permacultural.
Passada a forte chuva da manhã, voltamos à ideia inicial de manejar a vegetação do sítio para potencializar o período de crescimento intenso que esta época do ano traz às plantas do Cerrado. A chuva propicia esse ambiente, mas pode ser muito bem auxiliada com podas e a consequente inserção de matéria orgânica no solo. Os principais alvos das tesouras, facões e serras foram as aroeiras e os margaridões próximos à Oca. Finalizamos o dia com uma rodada de manifestações sobre o final de semana e mais uma divertida brincadeira em grupo.