Texto e imagens de Bernardo Oliveira
O que um poço artesiano no Distrito Federal tem a ver com o Rio da Prata? Como o desmatamento da floresta amazônica influencia as chuvas de São Paulo? O quarto módulo da Imersão na Teia, que aconteceu entre os dias 12 e 14 de outubro, nos convidou a pensar sobre essas e outras questões, discutindo a respeito dos ciclos da água e de como a interferência humana os tem afetado, prejudicando todo o sistema que alimenta a vida terrestre, especialmente a humanidade.
No primeiro dia do módulo, começamos o encontro com uma aula expositiva, com Sérgio Pamplona, sobre os ciclos da água e o problema sério que a falta de saneamento adequado tem causado em todo o planeta. Conversamos sobre a necessidade de uma mudança de consciência em grande escala, já que boa parte da população ainda não consegue enxergar a situação como um problema.
A falta de água já atinge boa parte da população mundial e as projeções para um futuro próximo trazem números assustadores, como a possibilidade de 500 milhões de pessoas sem acesso à água potável na Índia. O Brasil passou, há cerca de três anos, por uma grave crise hídrica, tendo como protagonistas os reservatórios de São Paulo, cidade mais populosa do país. O DF vive hoje uma situação complicada: nascentes e poços nunca estiveram tão secos, os racionamentos se fazem constantes. O desmatamento e a poluição aparecem como os grandes vilões desse processo devastador.
Precisamos entender o problema como algo sistêmico. A Floresta Amazônica, por exemplo, é a maior responsável por evitar que o sudeste brasileiro se torne um grande deserto. Ela cria as condições atmosféricas que puxam a umidade gerada pelo Oceano Atlântico para o continente. Toda essa água colide com os Andes, que funcionam como uma enorme barreira, a conduzindo ao sul do Brasil. Quando a floresta perde árvores, há um comprometimento da disponibilidade de água doce em escala global.
O Distrito Federal é um dos responsáveis pelo abastecimento de um dos rios mais importantes da América do Sul, o Rio da Prata, ao sul de nosso continente. A região faz parte da bacia hidrográfica do Rio Paraná, que desagua no Prata. Cada poço artesiano em funcionamento por aqui reduz um pouco a quantidade de água no rio. Quando o cerrado é desmatado, a infiltração de água no solo, que necessita de vegetação para acontecer de forma mais eficiente, é prejudicada.
Além da redução da quantidade de água doce em nossos rios, enfrentamos também o problema da poluição, que torna a água disponível inutilizável. Na tarde do dia 12, Matheus Larrossa, estudante de Engenharia Ambiental imerso na Teia, ministrou uma aula sobre as condições de saneamento no Brasil e possíveis soluções para a situação, que apresenta números muito desfavoráveis, como o de que apenas cerca de 50% da população urbana brasileira tem em sua casa um sistema de coleta de esgoto.
Matheus apresentou dados sobre o saneamento nos diversos estados brasileiros e nos mostrou como uma rede de tratamento de esgoto convencional funciona e em quais problemas ela pode acarretar. Foram apresentadas soluções muito simples para o esgoto, como biodigestores, wetlands, e TEvaps, entre outras, todas capazes de devolver a água ao sistema, limpa o suficiente para que retorne ao ciclo sem causar qualquer problema.
À noite, fomos convidados para uma edição especial da dança circular, que acontece toda quinta-feira no espaço Ocalango. Desta vez, o tema das danças era a água.
No dia seguinte, sexta-feira, após uma breve explicação sobre seu funcionamento, foi proposta ao grupo a construção de um sistema wetlands, para tratamento de águas cinzas – que não carregam fezes. O sistema compreende três níveis de filtragem, dispostos em caixas d’água com canos que transportam o líquido de um recipiente para o outro, quando o primeiro estiver cheio.
Nos dois primeiros tanques, acima da água, pequenas jangadas de bambu trazem sobre si plantas como o Lírio do Brejo e o Copo de Leite, que filtram a água com suas raízes, absorvendo nutrientes. Na última caixa, macrófitas – plantas que se posicionam na superfície da água, como a Flor de Lótus – trabalham junto a pequenos peixes para garantir a qualidade dos filtros. Depois de filtrada e livre de possíveis patógenos, a água pode retornar ao sistema ou ser reutilizada para limpeza.
Tendo em mente que, para que uma solução ecológica funcione, é preciso que seus usuários também se comportem de forma ecológica, participamos, no período da tarde, de uma oficina para a produção de produtos de limpeza não poluentes. Utilizando materiais acessíveis, como óleo vegetal usado, bicarbonato de sódio, limão, água e soda cáustica, aprendemos a higienizar diversos tipos de materiais e conseguimos fazer uma grande quantidade de sabão.
Utilizamos a seguinte receita, de nossos amigos de Yvypora(https://yvypora.wordpress.com/receitas/), para preparar o sabão.
Receita de sabão usando óleo usado:
Fazer sabão é simples, ecológico, econômico! Esta receita é simples e TEM que SER FEITA EM LUGAR ABERTO E AREJADO, POIS OS GAZES NO INÍCIO DO PROCESSO SÃO TÓXICOS!:
4 L DE ÓLEO ( COADO- caso seja usado…)
4 l de água quente
3 l de alcool 92º
1kg de soda caústica
Pegue um balde grande, um cabo de vassoura para misturar e vá para o jardim!
1) Dilua a soda caústica na água ( vai ferver e estes gazes são os tais, tóxico).
2) Acrescente o óleo, misture
3) Finalmente acrescente o alcool
Misture e misture… siga misturando- esta mistura tem uma cor leitosa, de barro na água…
Misture e misture…
Num determinado momento seu sabão vai “virar”… quer dizer, fica absolutamente transparente, como um whisky ou chá preto. Ele faz uma película no cabo de vassoura… Pronto, teu sabão está feito!
despeje num vasilhame que irá armazenà-lo e deixe esfriar.
Se você fizer com óleos vegetais ele ficará como um gel depois de frio… Se usar sebo, ou gordura animal, ele fica em pedaços!
No sábado, pela manhã, plantamos as mudas que farão parte do sistema wetlands e voltamos ao espaço Ocalango para mais uma aula expositiva, desta vez, sobre as soluções para a obtenção de água potável de forma mais sustentável. O funcionamento de um sistema de captação da água da chuva – bandeira do Sítio Nós na Teia, que já atingiu sua auto-suficiência e consegue se manter abastecido durante todos os meses da seca apenas com chuva – foi explicado e debatido.
Mais tarde, fechando o módulo, Haila Beatriz Oliveira facilitou mais uma relaxante oficina lúdica com materiais reciclados. O grupo enfeitou um fio de luzes de natal com artesanato feito a partir de copos descartáveis, garrafas pet e panos. O resultado está exposto na oca do sítio.
{ Mensagem do dia }
Quando nos comprometemos com o melhor de nós mesmos só coisas boas acontecem e o êxito é inevitável. Tem coisa melhor do que ir dormir com a sensação de dever cumprido e motivado para acordar no outro dia e fazer ainda mais e melhor do que fez hoje?
Quando você aprende a gostar do que faz e encara aquilo como um projeto de vida, como algo que te traz, além da realização profissional, a sua realização íntima e pessoal, tudo fica mais fácil, mais leve e até mais divertido de fazer, mesmo em frente aos problemas e adversidades – que existem para todos e em todas as áreas de atuação.
Você só precisa encontrar a motivação dentro de você e mantê-la viva, pulsante, não importa o que acontecer. Porque é a força do trabalho que impulsiona o homem para suas maiores conquistas.
Realmente a conexão com o cuidado com a terra é uma grande alegria e observar o ambiente do Sítio cada vez mais verde e vivo é a melhor recompensa que podemos receber.
Agradecemos sua mensagem!