Mônica Carapeços, guardiã do Sítio Nós na Teia, ministrou no sábado, 2 de setembro, e terça-feira, 5, duas oficinas de processamento e preparo de receitas com mutamba – fruta nativa do Cerrado. Mônica, entusiasta das PANCS (Plantas Alimentícias Não Convencionais), levou seu conhecimento com as mutambas ao café da manhã do CSA Aldeia Altiplano, que acontece mensalmente na ecovila de mesmo nome, e repetiu a aula no Sítio, para os participantes da Imersão na Teia.
O pé de mutamba, que gera um fruto de tamanho similar ao de um morango, de coloração verde negra, bem escura, costuma frutificar nesta época do ano. A mutamba possui um gosto bem adocicado, característico do Cerrado, e propriedades nutricionais de grande valor, tendo efeito muito positivo no fortalecimento do sistema imunológico.
A planta – especialmente suas folhas e raízes – pode ser usada no tratamento de doenças, como no controle do vírus HIV, doenças gastrointestinais, diarreias, doenças renais e hepáticas. A encontramos na maior parte das Américas do Sul e Central, sendo bem frequente no Cerrado brasileiro.
A Mutamba é uma árvore pioneira, que nasce espontaneamente no cerrado, adaptada ao regime de secas, e cresce de forma vigorosa abrindo caminho para a sucessão de outras espécies. Ou seja, possui importante papel para a regeneração de áreas degradadas e integração em agroflorestas.
Leia mais sobre essa planta incrível:
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/42548/1/Circular141.pdf
Apesar de seu enorme potencial, a planta é pouco conhecida e utilizada atualmente. Seu uso gastronômico é praticamente nulo na região, sendo usada apenas por uma empresa de sorvetes. Mônica, natural do RS, comenta que seu primeiro contato com a planta foi no Sítio Nós na Teia. Ficou intrigada com a árvore tão exuberante e repleta de frutos. Nesse momento não sabia que eram comestíveis pois o visual seco do fruto não é atraente. Contudo, no contato com goianos descobriu um uso tradicional do fruto, de simplesmente colocar na boca e ficar “roendo” para apreciar sabor adocicado. Ela apreciou o sabor e resolveu investir em estratégias para processar e levá-lo a preparos. Por ser amante da cozinha e gostar de experimentar receitas ela foi desenvolvendo um método próprio que teve bons resultados. Assim, todo ano, na época de safra, dedica-se a difundir esses saberes.
Durante as oficinas, Mônica ensinou aos co-agricultores do CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura) e imersos na Teia como processar a fruta e preparar receitas como sorvetes, cremes, shakes e molho para salada, com base em sua mucilagem e sementes.
Seu processamento é relativamente simples: a mucilagem pode ser extraída deixando-se a planta de molho em água quente por cerca de 15 minutos e quebrando-se a casca (com um quebra-nozes ou pilão). Depois disso, pode-se bater tudo em um processador e separar o extrato mucilaginoso da casca com uma peneira fina ou tecido voal.
Da mucilagem, faz-se os shakes, molhos e licores; o resto, seco ao sol, pode virar farinha. Ambos servem de base para receitas como bolos, picolés, vitaminas etc. O grupo da Imersão na Teia aproveitou a polpa para produzir alguns vidros de molhos para a salada. Foi produzido um molho estilo oriental, seguindo a seguinte receita:
Molho estilo oriental à base de mutamba:
Ingredientes:
- 4 copos de polpa de mutamba
- 4 dentes de alho
- 1 colher de sobremesa de cominho em pó
- 1 colher de sobremesa de pimenta preta em pó
- 1 colher de sobremesa de gergelim descascado
- 2 colheres de sopa de óleo de gergelim
- 2 colheres de sopa de shoyo
- sal à gosto
- tempero verde à gosto (na hora de servir)
Preparo:
Colocar a polpa de mutamba em uma panela para ferver até adquirir a consistência desejada para o molho e reservar.
Em uma frigideira colocar o óleo de gergelim, refogar rapidamente o alho e incluir demais temperos em pó. Adicionar esses temperos refogados à polpa cozida de mutamba e finalizar com sal e shoyo. Deixar esfriar e manter na geladeira.
Utilizamos a oportunidade para propor a todos que aproveitem a época propícia e passem a notar as árvores na cidade e colher mutambas, que podem ser facilmente apanhadas do chão, diariamente, debaixo de qualquer pé.
Que tal aprofundar a experiência? Aproveite para participar do Jantar PANC e da Oficina gastronômica com Mutamba! https://sitionosnateia.com.br/2017/09/jantar-e-oficina-panc-mutamba/
Texto e imagens de Bernardo Oliveira
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