Esta postagem é voltada a todas as pessoas que de alguma forma estão engajadas em causas sócio-ambientais. São muitos os movimentos, as denominações. Nem vou ousar citar pois posso esquecer de alguns e já começar mal… É exatamente sobre processos desse tipo que quero tratar aqui em uma mistura de desabafo e pedido para termos uma postura emocional menos suscetível. Afinal, estamos TODOS no mesmo barco, que diga-se de passagem, está afundando…
Vamos começar com uma breve contextualização da gravidade do cenário atual com um trecho do livro Há um mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins (DANOWSKI e CASTRO, 2014, pag. 20)
A história da humanidade já conheceu várias crises, mas a assim chamada “civilização global”, nome arrogante para a economia capitalista baseada na tecnologia dos combustíveis fósseis, jamais enfrentou uma ameaça como a que está em curso. Não estamos falando apenas do aquecimento global e das mudanças climáticas. Em setembro de 2009, a revista Nature publicou um número especial em que diversos cientistas, identificaram nove processos biofísicos do Sistema Terra e buscaram estabelecer limites para esses processos, os quais, se ultrapassados, acarretariam alterações ambientais insuportáveis para diversas espécies, a nossa entre elas: mudanças climáticas, acidificação dos oceanos, depleção do ozônio estratosférico, uso de água doce, perda de biodiversidade, interferência nos ciclos globais de nitrogênio e fósforo, mudança no uso do solo, poluição química, taxa de aerossóis atmosféricos. Os autores advertiam, à guisa de conclusão, que “não podemos nos dar ao luxo de concentrar nossos esforços em nenhum destes [processos] isoladamente. Se apenas um limite for ultrapassado, os outros também correm sério risco”. Acontece que, ainda segundo os autores, podemos já ter saído da zona de segurança de três desses processos – a taxa da biodiversidade, a interferência humana no ciclo de nitrogênio (a taxa com que o N2 é removido da atmosfera e convertido em nitrogênio reativo para uso humano, principalmente como fertilizante) e as mudanças climáticas – e estamos perto do limite de três outros – uso de água doce, mudança no uso da terra, e acidificação dos oceanos.
Que tal? Está bom ou quer mais dados catastróficos? Independentemente de ser permacultor ou estar em outro movimento, penso haver um consenso mínimo de que nossa situação é grave e que precisamos agir, certo? O tempo é curto e somos minoria em uma massa de pessoas em um estilo de vida consumista e destrutivo.
Portanto, por que diabos a gente ainda perde tempo com “egos” e melindres?
E veja, não estou sugerindo atuarmos juntos. Ainda que entre amigos haja sintonias mais finas para conseguirmos fluir facilmente em ações cooperativas, e mesmo seguindo para o mesmo ponto, é óbvio que não vamos todos trilhar o mesmo caminho. Cada um vai se identificar e exercer sua vocação em determinadas formas de ação e não em outras.
Mas acredite, é essencial que existam muitos caminhos! TODOS os caminhos devem ser honrados, ainda que a gente não concorde em todos os aspectos ou conceitos. Cabe salientar que também não se trata de uma questão mais holística de ter amor pelas grandes corporações capitalistas ou por nossa política corrupta (ainda que algum dia a gente também precise olhar para isso e perceber que estamos no mesmo barco). Por enquanto estou falando de “irmãos de caminhada”!
Entre todos nós ambientalistas certamente existe o consenso mínimo de que trata Leonardo Boff em seu livro Ethos Mundial (BOFF, 2000, pag.26): O ethos configura a atitude de responsabilidade e de cuidado com a vida, com a convivência societária, com a preservação da Terra, com cada um dos seres nela existentes e com a identificação de um derradeiro Sentido de universo.
Deixo aqui o pedido, que também se aplica a mim mesma, para refletirmos sobre o grande cenário a cada vez que quisermos prejudicar o outro seja por críticas desnecessárias, ações ou mesmo pensamentos de competição e boicote. Precisamos de mais pontes e menos muros! Precisamos de todos os tipos de ações possíveis, no maior número de lugares possível, com o maior número de pessoas, para realizarmos a grande virada.
Sim, é necessário ter pessoas atuando em cursos voltados para a elite!
Sim, é necessário ter cursos com valores caros (ou justos?), onde os profissionais são bem pagos e podem garantir seu bem-viver!
Sim, também é necessário atuar na periferia!
Sim, é necessário ter cursos subsidiados ou com trabalho voluntário e custo quase zero!
Sim, é preciso pagar para fazer trabalho voluntário em lugares onde não há subsídios para os custos de manutenção!
Sim, também é necessário ter lugares onde o trabalho voluntário ocorre em troca de alimentação e hospedagem!
Sim, muitos de nós atuarão na mesma área e ofertaremos cursos semelhantes! Sim isso é cooperar por algo maior que “o mercado”!
Sim, há espaço para todos e muitos, muitos mais!
Sim, o sucesso do outro também é o meu sucesso rumo à grande virada!
Sim, o paradigma da escassez que nos encurrala com o medo e na competição ainda habita dentro de nós!
Sim, podemos nos livrar dele e cooperarmos dentro do paradigma da abundância!
Sim! Sim! Sim!
Reforçando o pedido:
Cada vez que você vir o seu companheir@ como “competidor”. Cada vez que você se sentir “excluído”. Cada vez que você sentir que a luz do outro está “te ofuscando”. Por amor, respire fundo e se conecte com a Terra, lembre-se que estamos todos sobrecarregados, remando contra a maré e procurando com todas as nossas limitações trabalhar pelo cuidado da Terra, cuidado das pessoas e partilha justa dos excedentes.
Somente quando superarmos os melindres conseguiremos ver as pontes que nos conectam e, aí sim, a força da cooperação não terá limites e poderemos viver verdadeiramente o paradigma da abundância.
Essa mudança pela vida já está em curso no mundo…
Vamos em frente !