Se o/a internauta chegou ao site do Sítio Nós na Teia, é provável que tenha interesse (ou no mínimo curiosidade) em relação à questão ambiental. Nesse caso, é bem possível que já tenha se deparado com o termo permacultura.
Mas digamos que essa palavra seja uma novidade. Proponho-me neste artigo a tentar esclarecer um pouco seu significado, adiantando que, embora isso não seja tarefa fácil, a permacultura é algo fascinante e costuma mudar visões de mundo e vidas.
Vamos lá.
O termo foi criado em 1978 pelo naturalista Bill Mollison, a partir do trabalho desenvolvido por ele e o estudante David Holmgren em paralelo a um curso pioneiro de Design Ecológico na Tasmânia, Austrália. Tratava-se inicialmente da contração em inglês de “permanent” com “agriculture”, ou seja, “agricultura permanente”. Os dois visionários enxergaram, há mais de 30 anos, que sem uma base agrícola permanente, não seria possível haver uma sociedade permanente (hoje diríamos sustentável). É difícil dizer que eles estavam errados, diante do cenário atual de devastação progressiva e ininterrupta da biocapacidade do planeta para nos sustentar.
Por essa base agrícola permanente, eles se referiam a um modo de produzir alimentos (além de fibras, materiais de construção e combustível) que não fosse destruidor e impactante dos ecossistemas, mas sim harmônico com eles. Seria, portanto, um modo de suprir as necessidades humanas por meio de um planejamento integrador das pessoas, suas atividades e comunidades à paisagem local.
Essa proposta pioneira surgiu (junto com o termo) no livro seminal chamado “Permacultura Um”, que chegou a ser publicado no Brasil pela Editora Ground.
O sucesso foi imediato, e logo apareceram simpatizantes e ativistas para botar aquelas ideias em prática. Da Austrália para o mundo não demorou muito e os permacultores se multiplicaram rapidamente planeta afora, aplicando, semeando e disseminando a novidade que integrava a uma moderna visão de design um profundo respeito pelas visões de mundo, sabedoria e técnicas ancestrais e locais.
Só que “nem só de pão vive o homem”, e assim o conceito de permacultura logo evoluiu para se referir à grande mudança cultural e civilizacional que o ser humano deve empreender se quiser permanecer vivendo com qualidade sobre a espaçonave Terra, ou, de modo mais poético, sobre Gaia, o planeta vivo do qual fazemos parte e que temos maltratado impiedosamente.
O termo passou a significar literalmente a “Cultura de Permanência” que devemos efetivamente construir.
Mas também significa uma série de coisas, todas entrelaçadas entre si e apontando para a construção dessa nova cultura. Vamos a elas:
- Permacultura é uma filosofia, uma ética e uma prática voltadas para a criação de abundância e qualidade de vida sem dano ambiental nem exploração social. Aqui enfocamos os valores de base, nos quais ela se ancora para construir a Cultura de Permanência. São os valores aos quais todos entusiastas e praticantes aderem para ajudar nessa construção.
- Permacultura é um sistema de planejamento, projeto e design de propriedades (rurais ou
urbanas) e de comunidades (bairros, vilas, cidades) sustentáveis e produtivas. Essa é a sua definição na ótica do planejamento que ela propõe para dar base material à Cultura de Permanência. Aqui ela estabelece as estratégias e caminhos para implantar os sistemas agrícolas saudáveis integrados às moradias; os sistemas de produção de energia comunitários locais; os desenhos de comunidades integrados aos ciclos dos nutrientes e da água, etc. Tudo com o objetivo de garantir sua sustentabilidade tempo afora. É assustador pensar que até hoje, nesse ponto da jornada humana, não tínhamos um manual de instruções para a sobrevivência da nossa espécie. A permacultura veio preencher essa lacuna, esperamos que em tempo.
- Permacultura é a combinação de prática com o pensamento sistêmico e holístico que somos levados a desenvolver para a implantação e readaptação dos nossos sistemas (residências, propriedades, cidades, biorregiões) na direção da Cultura de Permanência. Quando mergulhamos no estudo e principalmente na prática da permacultura, passamos a ter uma mudança na percepção das coisas, do mundo que nos rodeia e da necessária ação sobre ele. Diz Mollison: “Ela traz uma mudança do aprendizado passivo para algo ativo. É como dizer que em vez de os físicos ensinarem física, eles deveriam ir para casa e ver como a física se aplica ao seu lar”.
- Permacultura é um conjunto de técnicas para a produção de alimentos orgânicos e saudáveis, usando a natureza como modelo para se criar uma ecologia cultivada, dentro da qual o ser humano se insere de modo positivo. É comum pensar a permacultura como mais uma dessas técnicas (como a biodinâmica ou os sistemas agroflorestais), quando na verdade é o inverso: ela é que, dentro do design para a sustentabilidade, lança mão do que houver de mais apropriado entre todas as correntes de produção ecológica de alimentos, de modo integrado e sem preconceitos nem dogmas.
- Permacultura é um poderoso movimento de empoderamento local, ativismo prático e renovação planetária, baseado em respeito, cooperação e na sustentabilidade das comunidades em geral. Aqui falamos na mobilização que veio a ocorrer a partir do seu crescimento avassalador. Os permacultores e permacultoras formam uma rede sem hierarquias ou donos, que cresce rapidamente em todos os continentes.
Ou seja, permacultura é algo vasto, fácil de sentir, fácil de compreender como um todo, fácil de identificar com um monte de desejos pessoais profundos.
Por isso ela encanta e envolve tanta gente. Porém, defini-la é complexo, e isso talvez lhe confira ainda mais poder de encantar e transformar.
O próprio Mollison diz: “você pode compará-la com um guarda-roupa milagroso, no qual você pendura roupas de qualquer ciência ou arte, e vê que elas estão sempre em harmonia com as que já estavam penduradas lá. É uma estrutura que nunca para de se mover, e aceita informação de qualquer lugar. É difícil defini-la, eu não consigo. Ela é multidimensional – está inevitavelmente envolvida na teoria do caos desde o princípio”.
Sendo assim, não serei eu a botar um ponto final nessa definição. Fica o convite para que você, seja quem for, esteja onde estiver, junte-se a nós no trabalho em prol da Cultura de Permanência, algo urgentemente necessário para a sobrevivência da espécie humana nesse momento complexo e conturbado da nossa história.
Excelente conteúdo!
Olá Eduardo, agradecemos o apoio e esperamos poder partilhar cada vez mais sobre nossas ações na Permacultura para instigar outras pessoas para a mudança por um mundo mais sustentável. Abraços, Monica
Material bem bacana, esclarecedor! Estou usando como base nos meus estudos! Obrigado!
Agradecemos.