Para quem se dedica a um processo de comunidade intencional a única constante que há é a mudança… mudanças ocorrem o tempo todo, pessoas chegando e se despedindo e com elas aprendizados, ideias, novidades. A cada ciclo, feedbacks, aprendizagens, alegrias, tristezas, vazio, inovações.
Algumas das lições que aprendi ao longo das experiências com comunidades foram:
– Evite expectativas.
– Observe os fluxos.
– Invista na comunicação clara e processos de feedback (muito feedback!).
– Registre, celebre, honre o caminho e seus peregrinos.
– Esteja aberto a mudanças.
– Estabeleça limites, respeite suas necessidades.
– Seja amoroso(a) consigo mesmo e com os demais.
– Lembre de seus sonhos. A utopia serve para nos manter caminhando.
Saber e vivenciar são ações que vão se aproximando com o tempo a cada nova surpresa e mudança de rumos. No final de 2016 imaginávamos ter estruturado um processo relativamente estável e previsível para receber pessoas com a intenção de ingressar na Comunidade-Escola de Permacultura Nós na Teia. A ideia é (continua sendo) bastante simples: buscamos pessoas interessadas em se estabelecer no Sítio, permacultores como parceiros para realizarmos juntos as ações da Comunidade-Escola de Permacultura no Sítio e construirmos a Aldeia (novas casas para as famílias que se estabelecerem). Esse processo é gradual. Afinal, consideramos que ingressar em uma Comunidade Intencional não pode ser uma decisão apressada. Assim, nosso processo de ingresso tem um tempo de evolução, onde a pessoa entra como Ecomorador para um ciclo de 2 anos morando na Comunidade-Escola. Então, se ela decidir que quer aprofundar raízes, e o grupo já estabelecido de Cuidadores e Guardiões concordar, há uma passagem para o Perfil de Cuidador. Só então, com mais um ciclo como Cuidadora a pessoa poderá adquirir uma cota e se tornar Guardiã do espaço. Com esse processo delineado nosso plano era continuar investindo nos ciclos de entrada de Ecomoradores, até termos o quadro completo de Cuidadores e Guardiões do Sítio Nós na Teia. Nessa etapa do plano a Aldeia já estaria se consolidando e estaríamos prontos para uma nova etapa na espiral de evolução, quando nosso foco de atuação será viver nossa missão da comunidade-escola e compartilhar nossos saberes e práticas com pessoas buscando a permacultura e vida em comunidade.
Bem, no papel cada etapa está legal. Mas a vida nos trouxe outros cenários…
Final de 2016, já com a perspectiva de fechamento do ciclo de 2 anos de vários Ecomoradores, sabíamos que alguns sairiam. Assim, abrimos processo seletivo para a entrada de novas pessoas para um novo ciclo de 2 anos. Nos preparamos e aprimoramos o processo seletivo com a ajuda de uma amiga psicóloga, que está estudando relações de grupos. Com ela revimos e afinamos o perfil almejado para Ecomoradores. Tudo certo! Algumas pessoas se inscreveram e começamos o processo seletivo mútuo. Dizemos mútuo pois a primeira etapa dizemos que é abrirmos as portas do Sítio para a pessoa nos visitar, esclarecer suas dúvidas e decidir se nos seleciona. Em muitos casos não somos selecionados e assim a pessoa já desiste do processo rsrs. A partir daí é a nossa vez de verificar se a pessoa tem o perfil para ingressar na comunidade. Nada muito complexo, por exemplo analisamos conexão e desejo de estudar Permacultura, postura cooperativa e abertura para mudança e, essencial, interesse em se estabelecer no Sítio Nós na Teia. Ocorreu que no último processo seletivo a grande maioria das pessoas manifestou claramente que desejava uma experiência transitória, sem uma perspectiva de se estabelecer no Nós na Teia. Algumas buscavam aprender mais sobre Permacultura; outras experimentar a vida em comunidade; outras apenas uma moradia legal por um tempo; etc. E as poucas pessoas que selecionamos como tendo perfil para Ecomorador situações inesperadas na vida inviabilizaram sua vinda, como perda de um parente e necessidade de sair de Brasília. Enfim, não rolou…e a comunidade que já não era grande passou de 8 para apenas 4 pessoas. O que fazer?
Em primeiro lugar decidimos tirar um tempo para refletir e buscar compreender o feedback para podermos ter a auto-regulação adequada. E esse tempo para meditar foi em um momento muito especial, para mim (Mônica), quando eu estava em viagem de estudos de Yoga e Ayurveda na Índia. Nessa viagem passei um tempo em Auroville, uma das maiores e mais antigas ecovilas do mundo. A vivência lá foi muito importante para perceber que os desafios que as comunidades enfrentam têm muitos padrões de semelhanças, independentemente do tamanho. Voltei mais confiante e com várias ideias.
Ao retornar, em fevereiro de 2017, Sérgio, eu, Bruno, Tomás e Márcia (a amiga psicóloga que nos apoiou no processo seletivo) decidimos manter as inscrições com vistas a moradores permanentes aberta e em paralelo lançar uma outra modalidade de participação na Comunidade-Escola que pudesse contemplar pessoas que buscam uma experiência mais curta. E assim surgiu a ideia da “Imersão na Teia”, um ciclo de estudos na Comunidade-Escola de Permacultura Sítio Nós na Teia.
Essa ideia aquietou nossos corações. Decidimos trabalhar na proposta e lançar sua primeira edição para o segundo semestre de 2017. Pudemos relaxar para nos dedicarmos à programação de Cursos e Vivências, que normalmente oferecemos no primeiro semestre no Sítio. Celebramos bastante com nossa primeira edição do EcoCarnaval, que foi muito divertida. E seguimos no fluxo de vários eventos. Em março e abril tivemos mais uma edição do Curso de Design em Permacultura – PDC, que costumamos realizar integrando nosso Sítio e a Toca da Coruja, de nossos amigos permacultores Andrea Zimmermann e Fábio França.
Em paralelo estruturamos nosso time dragoniano (Sérgio, eu, Bruno, Lucas e Marcela), e usando a metodologia Dragon Dreaming fomos estruturando etapa por etapa nossa proposta da Imersão na Teia. O processo leva um tempo em reuniões e evolução do projeto, desde o círculo dos sonhos, criar visão, objetivos, missão, karabirdt (tabuleiro do jogo, com as ações previstas, tempo, responsáveis) etc. Mas o tempo vale a pena, tanto pelos resultados, quanto pela leveza na criação do projeto. Por ser uma metodologia que trabalha muito o sonho, o lúdico, a celebração é muito divertida a evolução.
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