Início de 2015, fomos surpreendidos por mudanças inesperadas no grupo. Luiza Padoa, que esteve conosco desde o início da comunidade-escola, se despede em janeiro pela necessidade de uma casa para formar nova família. Naquele momento, mais do que nunca sentimos o desejo de avançar rapidamente rumo à aldeia com a construção de novas casas para acomodar famílias. Contudo, tivemos que aceitar o ritmo da comunidade-escola. Momentos de despedidas, especialmente inesperadas, são passagens marcantes em um processo de comunidade e sempre abalam o grupo. Ficou a saudade e um certo vazio, questionamentos se poderíamos ter outros rumos. Várias reflexões …
Se por um lado há a tristeza da despedida, também surge a alegria de receber uma nova integrante. O quarto vago foi ocupado por Mariana Buttes, que já havia sido selecionada em nosso processo seletivo.
E em julho, Tomás Cardoso, um amigo vindo de experiência em ciclos do projeto Viver de Dentro do IPOEMA, veio a ocupar a última vaga disponível. Por existir uma relação prévia com os moradores o processo seletivo foi resumido e fizemos apenas um encontro geral com todos os Moradores. O grupo aproveitou o momento para estruturar o FICO, instrumento que criamos juntos para avaliar periodicamente a Felicidade Interna da Comunidade.
O ano de 2015 foi marcado por esse tom de acomodar as mudanças com a entrada dos novos membros e de fortalecer a vida em comunidade.
Bioconstruímos bastante entre nós e também com amigos, colaboradores e estudantes. Realizamos vivências de construção natural e recebemos turma do Curso Educação Gaia. Enfim, ao longo do ano conseguimos promover um gostoso sentimento de conexão entre todos os integrantes da comunidade-escola.
E tudo estava em harmonia e florescendo tranquilamente quando eu e Sérgio saímos de viagem em novembro. Mas para nossa surpresa quando retornamos no início de 2016 percebemos que havia sido um grande desafio para os Ecomoradores assumirem função temporária dos Guardiões. Muitos aprendizados ocorreram, especialmente em relação a responsabilidades e mesmo habilidades na manutenção do Sítio. Nesse processo também ocorreram divergências e dificuldades nas relações interpessoais.
Esses fatos nos trouxeram diversas reflexões e aprendizagens. Tivemos a percepção de que nós, enquanto guardiões da comunidade-escola, estávamos sendo reconhecidos com um papel equivocado de “pai” e “mãe” do grupo. Essa é uma armadilha que os pioneiros de uma proposta precisam ter cuidado pois conforme pudemos identificar na prática a nossa ausência deixou o grupo em uma situação de fragilidade. Percebemos claramente que a estrutura de governança precisava ser retomada para cada um rever seus compromissos, missão e papel no grupo.
Contudo, antes disso precisávamos lidar com as tensões e desacordos que haviam despontado naquele momento de fragilidade. Assim, focamos na realização de “Econtros do Coração”. Momentos com foco na Comunicação Empática utilizando técnicas de Comunicação Não-Violenta (CNV), entre outras. Foram momentos preciosos para exercitarmos a comunicação empática e reacender a “cola do grupo”, rever nosso FICO etc.
Para 2016 ficamos com o dever de casa de fortalecer a governança retomando a aplicação de técnicas da metodologia de sociocracia.
Além de nossas reuniões semanais para tratar de questões mais operacionais do dia-a-dia, estabelecemos um encontro do coração mensal e incluímos ainda uma reunião também mensal de governança. Na reunião de governança passamos a aplicar com regularidade técnicas da sociocracia para estruturar propostas e objetivos para o ano, realizar eleições e tomadas de decisão por consentimento e avaliar nossa evolução.
No final do ano tivemos o momento de culminância desse processo de crescimento e amadurecimento na comunidade. Para a maior parte do grupo chegava o final do ciclo de 2 anos, quando temos um importante momento de passagem dentro da estrutura de organização da comunidade-escola. É o momento da pessoa escolher se após esse período juntos ela sente o chamado de se conectar ainda mais profundamente, avançando do perfil de Ecomorador para o perfil de Cuidador (já no caminho de se tornar um guardião do Sítio). Ou se ainda não sente que pode decidir criar raízes na comunidade e entrar efetivamente para integrar a Aldeia. E assim, prefere vivenciar ainda outras experiências ou estar em outros espaços. Essa decisão vai sendo trabalhada ao longo do ano em momentos de auto-avaliação com o apoio do grupo e de encontros individuais com os guardiões.
É certamente uma grande oportunidade de amadurecimento para todos e para a proposta da comunidade-escola. Foi a primeira vez que chegamos a esse momento. Já havíamos previsto, contudo a vivência é sempre novidade. Sentimos que houve um enorme progresso e crescimento pessoal para cada um de nós, um fortalecimento de compromissos e mesmo um empoderamento para fazer outras escolhas e ter coragem de voar em novas descobertas. Independente da decisão todas as trajetórias foram celebradas, seja dos que alçaram vôo (Lucas & Marcela, Mel, Mariana) ou dos que permaneceram (Bruno e Tomás). Bruno já no perfil de Cuidador e Tomás ainda na continuidade de seu ciclo como Ecomorador.
Para nós, enquanto guardiões, que permanecemos acompanhando as idas e vindas de pessoas é um momento de aceitar a transitoriedade da vida e os fluxos que movem cada pessoa. Agradecer as aprendizagens, celebrar as amizades, os vínculos que permanecem para sempre e se preparar para receber outros permacultores interessados em se conectar com a nossa missão e quiçá se tornar um guardião da comunidade-escola Nós na Teia. E assim, nos preparamos para seguir em 2017!
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